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“Aliado ao viés patrimonial, o Sigda começou a aparecer na agenda da instituição como facilitador de uma gestão em tese mais eficiente.”


Entrevistado:

Fernando Pires

Contato

fapires@fiocruz.br

A Criação do Sigda

Concepção do Sigda

“A Casa de Oswaldo Cruz foi concebida para trabalhar com um foco muito claro em memória e história das ciências e da saúde. Desde o seu início, a COC montou projetos para contribuir para preservar a memória documental – aquela registrada em documentos - da Fiocruz e da área da saúde.

 

O Departamento de Arquivo e Documentação (DAD) buscou reunir e identificar materiais acumulados pela Fiocruz desde seus primeiros anos a fim de formar um arquivo institucional. Em que pese esse foco na memória e na história, logo se tornou importante dar atenção aos arquivos em seu conjunto, ou seja, não apenas daqueles de inegável valor histórico. A ideia era de que para preservar uma memória futura da instituição era preciso cuidar também dos arquivos e documentos que estavam sendo acumulados naquele momento e não apenas daqueles de maior valor patrimonial ou histórico.

 

Para cumprir esse objetivo, o DAD esboçou uma proposta para que se constituísse um sistema de arquivos da Fiocruz. Nessa época, início dos anos 90, o chefe do departamento era o Fernando Dumas e as pessoas encarregadas por fazer a proposta fomos eu, o Carlos Fidélis da Ponte e a Veronica Brito. O projeto foi então apresentado como uma política a ser adotada por toda a instituição para gestão dos seus arquivos, em uma das primeiras reuniões de Câmara Técnica de Informação, Comunicação e Informática da Fiocruz, coordenada pelo então vice-presidente, Paulo Buss. A primeira equipe a fazer parte do Sigda, salvo engano, contou com Mauritânia Maria Dezemone Forno, Valéria Cavalcanti Cysneiros, Sonia Eveline Loureiro, Fátima Regina Gomes Moreira Alves e Mônica Silva de Carvalho, além de mim na coordenação.”

 

Dilemas iniciais

“Na década de 90, com o aprofundamento das políticas neoliberais no mundo e, a partir de 1989, no Brasil, houve a tendência de se valorizar uma agenda mais claramente voltada para as questões gerenciais no setor público. No DAD, o foco era a memória documental, entretanto, com o Sigda, começamos a lidar também com a ideia de que preservar o patrimônio documental e ter práticas de gestão de arquivos eficientes e modernas seria um ganho para a Fiocruz no que concerne às suas práticas gerenciais.

 

Aliado ao viés patrimonial, o Sigda começou a aparecer na agenda da instituição como facilitador de uma gestão em tese mais eficiente. Se por um lado isso fortaleceu o Sigda como ação de valor estratégico, por outro, gerou um dilema dentro do departamento: nossa missão de cuidar da memória mais histórica, para a qual a gente olha a partir de um certo valor cultural, de um olhar impregnado da história propriamente dita, pode conviver sem conflito com uma dimensão de corte administrativo ou gerencial?

 

Hoje, eu diria que nós temos um novo componente, quanto ao acesso à informação do ponto de vista do direito de cidadania. Claro que a noção de que a documentação é pública e pertence ao patrimônio da coletividade esteve sempre subjacente ao projeto, mas a ideia de que o cidadão tem o direito a ter acesso a informações que ele considera relevantes a tempo e a hora, dá um novo sentido de oportunidade ao Sigda como projeto institucional.”

 

Implantação do projeto

"Iniciado o projeto, a equipe do Sigda passou a negociar a criação de iniciativas piloto com as unidades. A primeira delas foi com Farmanguinhos, que recebeu muito bem a proposta, pois uma gestão de documentos adequada no interior dos laboratórios e da fábrica era pré-requisito para a obtenção de certificações de qualidade do tipo ISO. Implantar o projeto implicava em ajudar a unidade a conseguir graus crescentes de credenciamento como laboratório qualificado. Foi um projeto piloto bem encaminhado. Até hoje existe com sucesso bastante importante, que depois se estendeu à própria COC, INCQS, IOC (alguns setores), Biomanguinhos...

 

Não me lembro de ter enfrentado resistências ao Sigda. O que existe é a implantação mais ou menos rápida de acordo com a capacidade de investimento da unidade. O processo inicial e depois a manutenção das rotinas implantadas pressupõe custos principalmente porque envolvem um componente de recursos humanos razoável, além de espaço físico. Às vezes, os gestores aderem a ideia, mas não têm total percepção do recursos que precisam mobilizar. Não que sejam recursos astronômicos, mas são importantes e fundamentais para a sustentabilidade da iniciativa.

 

Além das parcerias interunidades, o Sigda também envolveu uma delicada parceria entre a COC e a Diretoria de Administração (Dirad). Em tese, a responsabilidade de gerir documentos faz mais parte das atribuições da administração, que de uma unidade de memória. Mas como a Casa concebeu o projeto e tínhamos àquela altura mais capacidade de realização, mais capacidade de mobilizar recursos humanos, fomos os protagonistas naquele primeiro momento. Ao mesmo tempo, construímos uma relação de corresponsabilidade e confiança com a área de administração geral na condução do sistema e na criação de rotinas de gestão de documentos no âmbito da Fiocruz. Sempre procuramos ter cuidado na construção dessa parceria e creio que isso tem sido bem gerenciado”